segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Simplesmente alentar uma paixão que o brasileiro ainda não sabe

Qual diferença entre torcer e alentar? Na teoria, nenhuma. Os dicionários os tratam como sinônimos, já que o termo em castellano significa o ato de incentivar, apoiar alguém ou algum time. Mas na prática há diferença. E como há. Depois de Riquelme monopolizar minha atenção na noite de sábado, na Bombonera, tirei o domingo para viver um dia de “hincha”. Acordei cedo, combinei com alguns amigos portenhos e fui para o bairro Floresta. Mais precisamente ao estádio Isla Malvinas, onde o modesto All Boys, de volta à Primeira Divisão após 30 anos, recebeu o gigantesco River Plate pela 13ª rodada do Torneio Apertura. Bastaram alguns minutos, nem foi preciso esperar a bola rolar, para ter a certeza: nas arquibancadas, eles (os argentinos) são diferenciados.
Se no Brasil torcemos em busca do orgulho de ser campeão, aqui eles têm orgulho somente por torcer. Obviamente não dá para medir paixão, seja no Brasil, na Argentina, ou em qualquer outro lugar, mas dentro da “cancha” eles se mostram mais intensos. Tão intensos que o jogo em si parece ser mero detalhe. Em uma época em que em nosso país os clubes itinerantes levantam o debate sobre a identidade e o amor à camisa, na Argentina permanecem vivos os lados afetivos, o barrismo positivo. Mais do que o All Boys, os “albos” defendem o bairro de Floresta, cantam em alto em bom som suas raízes. E de forma incessante.
Por menor que seja o estádio, por menos importante que seja a partida, todos estão sempre lá com seus papéis picados e gogós afiados. Não param um minuto. E digo isso das duas torcidas. Como de costume, há cantos são ofensivos ao rival, mas a maioria exalta a própria bandeira. Surpreendeu, por exemplo, os locais não relembrarem ao apoiador dos “millonarios” Buonanotte o acidente que sofreu recentemente e matou três de seus melhores amigos. Imaginam isso no Brasil? Não estou dizendo que eles são melhores, mas me passaram a impressão de se divertirem mais com o futebol. O placar, obviamente, importa. Entretanto, não é fundamental. Estar presente e apoiar, sim. Seja qual for a colocação ou a luta de sua equipe.
Não tenho dúvidas de que cada um dos cerca de 20 mil que estiveram no estádio Isla Malvinas foi para casa com a certeza de que se divertiram. Uns mais felizes que outros, claro, mas todos desfrutaram de todo o espetáculo de maneira muito menos tensa do que estamos acostumados. Me fez lembrar o Carnaval, sinceramente. Pulavam e cantavam sem parar. No intervalo, bombeiros entraram em campo para que jatos d´água amenizassem o calor. Aí, então, a festa foi completa.
Em campo, uma partida muito disputada no meio do reduzidíssimo campo não merecia mesmo muita atenção. Tanto que não é raro flagrar torcedores cantando e pulando que sequer olharem para o gramado. Em péssima fase há algum tempo, o River perdeu por 1 a 0, gol do uruguaio Rodriguéz. Entretanto, pelo menos pelo que me pareceu, ninguém foi para casa revoltado. Os gritos dos “borrachos del talón” foram ouvidos de forma mais nítida justamente qual sofreram o gol. E ao término da partida os jogadores receberam aplausos. Nada de vaias ou protestos. Olha que a equipe está na chamada zona de promoção (que disputa playoff com terceiro e quarto da Série B) e corre risco de cair pela primeira vez na história.
A má fase do rival, por sinal, foi alvo de brincadeiras dos “albos”, que levaram cartazes com a letra B enquanto os visitantes saíam. Pois é, isso também é bem diferente. Após as partidas, os visitantes saem primeiro e a torcida local é obrigada a esperar por 40 minutos até que os portões sejam abertos. Adivinham o que fazem neste período? Lógico, cantam e pulam.
Em breve volto ao Brasil, volto para o Brasileirão, volto para a rotina, mas volto com uma certeza: muito mais interessante que torcer, é “alentar”.
TEXTO DO BLOG :BRASIL MUNDIAL FC

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